terça-feira, 28 de junho de 2011

momentos: FILHOS QUERIDOS, ONDE ESTÃO?

momentos: FILHOS QUERIDOS, ONDE ESTÃO?

FILHOS QUERIDOS, ONDE ESTÃO?


SAUDADE é pouco para expressar o que sinto. Tudo passou tão rápido que ainda guardo na memória MOMENTOS maravilhosos junto aos meus filhos. Da amamentação, as fraldas de pano que eu lavava com todo cuidado, deixava-as clarinhas e bem passadas, nem sei mais quantas por dia, até hoje sinto o cheirinho de talco após banho.
Os primeiros passos, as primeiras palavras, como era bom ouvir papai, mamãe, a fase do que é isso, respondia-mos quantas vezes fossem nescessarias, febres repentinas, comidinha na boca, pirraças, mas eram tão dependentes de nós os pais.
O primeiro dia de aula, tudo era novidade, as brincadeiras de roda, pular corda, amarelinha, afinal naquele tempo nem sei se existia o tal de computador, criança brincava na terra, pés descalços, subiam em arvores, as roupas imundas que eram lavadas com sabão em pedra e depois muito bem passadas.
Juramos que todos estudariam até a faculdade, éramos pobres mas não medimos esforços, marido operário, salário baixo, para ajudar eu costurava, comprava revistas de modas e as freguesas escolhiam o modelo, as roupas precisavam ter um bom caimento e um excelente acabamento, graças a Deus as encomendas eram muitas, passei muitas noites costurando até de madrugada para dar conta das entregas.
Vencemos, foi com muito orgulho que fomos a formatura da faculdade de cada um de nossos filhos, nossa maior alegria era contar a todos os amigos, eu tenho filho advogado, o outro é dentista, nossa filha é professora.
O tempo passou, eles casaram, nos deram netos lindos, enchiam nossa casa nos finais de semana, mas eles também cresceram, já não nos visitavam mais, os filhos telefonavam pra saber se estava tudo bem.
Meu velho se foi, sem dores, sem sofrimentos, a mim restou a solidão, a saudade, a não ser algumas velhas amigas quase ninguém aparecia, minha saúde foi ficando debilitada, minhas mãos trêmulas, a visão difícil, meu filhos não tinham tempo nem paciência comigo. Agravado meu estado de saúde os médicos disseram que eu não mais poderia ficar só e foi aí que começou meu drama, para onde ir? Passei a viver cada mes na casa de um filho, mas sabia que era um peso, ficavam bravos pois eu sujava a mesa, dizem que repetia os mesmos assuntos, minha bexiga já não segurava a urina, passei a usar fraldas, meus netos reclamavam, pra dizer a verdade as empregadas tinham mais compaixão por mim.
Marcaram uma reunião familiar, eu fiquei quieta num canto como se um objeto fosse, apesar da minha pouca audição entendí perfeitamente a discussão, cada um dizia estar cansado, que eu dava muito trabalho, que estava atrapalhando a rotina da casa, foi então que minha filha, (a minha princezinha) sugeriu uma casa de repouso ou seja um ASILO, todos concordaram e uma semana mais depois fui colocada no carro com uma malinha e levada para um lugar que me disseram ser muito melhor para mim, mas que não me abandonariam e viriam me buscar nos finais de semana, pedí então que me deixassem levar algum objeto da MINHA casa como recordação e nesse momento parece que o mundo caiu sobre mim, desfizeram de tudo, não tinha mais nada, chorei por dentro, mas uma luz de esperança, pelo menos aos finais de semana veria filhos e netos.
No começo ainda me visitavam, com o tempo foram espaçando até que nunca mais apareceram.
Hoje tenho amigo(a)s aquí, dividimos nossa tristeza, como dói, angústia sem fim, a cada idoso que parte desse mundo chego a sentir inveja, sim inveja, pois nada mais faço que esperar a morte do corpo, por dentro já morrí desde o dia que me abandonaram. Queria ter a oportunidade de ve-los só mais uma vez, queria poder abraça-los e dizer o quanto os amo, queria ouvir de vocês a palavra mamãe. FILHOS QUERIDOS, ONDE ESTÃO? A cada domingo tenho um resto de esperanças de que  todos, filhos e netos entrem em meu quarto correndo a me abraçar, talvez seja essa ilusão que ainda me mantem viva, mas estou cada dia mais frágil, sinto que meu momento se aproxima, me sinto muito cansada.
Não os condeno, não tenho raiva, peço sempre a Deus que os proteja onde quer que estejam, até um dia meus amados.
GRAÇA MEREU
Augusto Cury " Todos fecham seu olhos quando morrem, mas nem todos enxergam quando estão vivos "