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Ele só pede amor |
São tantos casos de abandono e maus tratos aos animais que fico em dúvida quem é o irracional.
É revoltante ver como muitas pessoas sentem prazer em torturar esses seres indefesos que só pedem e oferecem muito amor.
Refletindo sobre tudo isso, lembrei-me de um poema que fez parte da minha infância.
UM CÃO CHAMADO VELUDO, graças a Deus achei na internet e postarei aqui.
Espero que todo que o lerem sintam-se tocados.
Nunca abandone seu animal, seja por qual motivo for.
GRAÇA MEREU
UM CÃO CHAMADO VELUDO
Eu tive um cão. Chamava-se Veludo. Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
para dizer tudo em uma palavra, foi o mais feio cão que houve no mundo.
Recebi-o das mãos de um camarada. Na hora da partida, o cão gemendo,
não me queria acompanhar por nada. Enfim - mau grado meu - o vim
trazendo. O meu amigo cabisbaixo mudo, olhava-o...O sol nas ondas se
abismava ...
"Adeus! " - me disse, e ao afagar Veludo nos olhos seus o pranto borbulhava.
"Trata-o
bem. Verás como rasteiro te indicará os mais sutis perigos. Adeus! E
que este amigo verdadeiro te console no mundo ermo de amigos! "
Veludo,
a custo, habituou-se à vida que o destino de novo lhe escolhera; sua
rugosa pálpebra sentida chorava o antigo dono que perdera. Nas longas
noites de luar brilhante, febril, convulso, trêmulo, agitando a sua
cauda, caminhava errante, à luz da lua - tristemente uivando.
Toussenel, Figuier e a lista imensa dos modernos zoológicos doutores,
dizem que o cão é um animal que pensa.Talvez tenham razão estes
senhores. Lembro-me ainda. Trouxe-me o correio, cinco meses depois, do
meu amigo, um envelope fartamente cheio. Era uma carta. Carta! Era um
artigo, contendo a narração miúda e exatada travessia. Dava-me
importantes notícias do Brasil e de La Plata, falava em rios, árvores
gigantes, gabava o steamer que o levou; dizia que ia tentar inúmeras
empresas. Contava-me também que a bordo havia mulheres joviais - todas
francesas. Assombrara-se muito da ligeira moralidade que encontrou a
bordo. Citava o caso d'uma passageira... Mil coisas mais de que não me
recordo. Finalmente, por baixo disso tudo, em nota breve do melhor
cursivo recomendava o pobre do Veludo, pedindo a Deus que o conservasse
vivo. Enquanto eu lia, o cão, tranquilo e atento, me contemplava, e -
creia que é verdade, vi, comovido, que nesse momento, seus olhos
gotejavam de saudade. Depois, lambeu-me as mãos, humildemente,
estendeu-se a meus pés silencioso movendo a cauda, - e adormeceu
contente, farto d'um puro e satisfeito gozo.
Passou-se o tempo.
Finalmente, um dia, Vi-me livre daquele companheiro. Para nada Veludo me
servia...Dei-o à mulher d'um velho carvoeiro. E respirei! " Graças a
Deus! Já posso ",dizia eu, " viver neste bom mundo, sem ter que dar,
diariamente, um osso a um bicho vil, a um feio cão imundo". Gosto dos
animais, porém prefiro a essa raça baixa e aduladora, um alazão inglês,
de sela ou tiro, ou uma gata branca cismadora. Mal respirei, porém!
Quando dormia e a negra noite amortalhava tudo senti que à minha porta
alguém batia. Fui ver quem era. Abri. Era Veludo. Saltou-me às mãos,
lambeu-me os pés ganindo, farejou toda a casa satisfeito e, de cansado,
foi rolar dormindo como uma pedra, junto do meu leito. Praguejei
furioso. Era execrável suportar esse hóspede importuno que me seguia
como o miserável ladrão, ou como um pérfido gatuno. E resolvi-me enfim.
Certo, é custoso dizê-lo em voz alta e confessá-lo. Para livrar-me desse
cão leproso havia um meio só: matá-lo.
Zunia a asa fúnebre dos
ventos; ao longe o mar, na solidão gemendo, arrebentava em uivos e
lamentos...De instante em instante ia o tufão crescendo. Chamei Veludo;
ele seguia-me. Entanto, a fremente borrasca me arrancava dos frios
ombros o revolto manto, e a chuva meus cabelos fustigava... Despertei
um barqueiro. Contra o vento, contra as ondas coléricas vogamos. Dava-me
força o torvo pensamento. Peguei num remo e com furor remamos. Veludo, à
proa, olhava-me choroso como o cordeiro no final momento. Embora! Era
fatal! Era forçoso livrar-me, enfim, desse animal nojento.
No
largo mar ergui-o nos meus braços e arremessei-o às ondas, de
repente...Ele gemeu os membros lassos, lutando contra a morte. Era
pungente.Voltei à terra, cheguei em casa. O vento zunia sempre na
amplidão profunda. E pareceu-me ouvir o atroz lamento de Veludo nas
ondas moribundo. Mas ao despir, dos ombros meus, o manto, notei - oh
grande dor! - haver perdido uma relíquia que eu prezava tanto! Era um
cordão de prata: - eu tinha-o unido contra o meu coração,
constantemente, e o conservava no maior recato, pois minha mãe me dera
essa corrente, e, suspenso à corrente, o seu retrato. Certo Caira além,
no mar profundo, no eterno abismo que devora tudo. E foi o cão, foi
esse cão imundo a causa do meu mal! Ah, se Veludo duas vidas tivera,
duas vidas eu arrancara àquela besta morta e àquelas vis entranhas
corrompidas. Nisto senti uivar à minha porta. Corri, abri...Era Veludo!
Arfava. Estendeu-se a meus pés e docemente, deixou cair da boca que
espumava a medalha suspensa da corrente. Fora crível, oh Deus??
Ajoelhado junto ao cão, estupefato, absorto, tomei-lhe o corpo como a
pedir-lhe perdão...estava enregelado. Sacudi-o, chamei-o aos prantos!
Veludo estava morto!
Autor: Luiz Guimarães
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IMAGEM DE UM CÃO ABANDONADO POR SEU TUTOR |
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Notem que escrevi TUTOR e não DONO, a partir do momento que adotas um animal tens a obrigação de zelar pelo seu bem estar.
"Em algum lugar, sempre haverá um cãozinho abandonado me impedindo de ser feliz." Jean Anouil